No empréstimo é que está o ganho


O Atlético regressou este ano aos escalões profissionais e é já o surpreendente líder da Liga de Honra. Graças a uma aposta na juventude e à colaboração de emblemas da Liga

O Atlético Clube de Portugal esteve apagado durante décadas. Glórias, só as do passado. Pelo meio, uma festa fugaz, em 2006-07, com a eliminação (0-1) do FC Porto da Taça de Portugal, em pleno Dragão. Tudo o resto foi uma crise que se arrastou desde a década de 1970, tornando o insucesso um hábito. Até que uma nova estratégia foi posta em prática no clube lisboeta. Uma aposta em jovens portugueses, cedidos pelos grandes do futebol português, e outros provenientes da própria formação. O clube renasceu.

O emblema de Alcântara conseguiu finalmente chegar às provas profissionais nesta temporada. E reforçou a política de apostar no produto nacional (só tem cinco estrangeiros). O projecto, embora poucos o admitam, já leva muitos a sonharem com o regresso ao escalão máximo, 35 anos depois.

Um dos principais "colaboradores", desde há algum tempo, é o Benfica. A formação da Luz cedeu Leandro Pimenta, um médio de 21 anos, José Coelho, da mesma idade, avançado, e ainda Hélio Vaz, médio de 20 anos. Além disso, ajudou na escolha do jovem treinador João de Deus (34 anos), a quem, segundo o presidente do Atlético, paga parte do salário.

Do Sporting chegou Zezinho, um talento de 19 anos, já com uma cláusula de rescisão de 30 milhões de euros. E o Guimarães também ajudou com a cedência do agora líder da defesa Gonçalo Silva (20 anos) e Vítor Bastos (21 anos). Filipe Ferreira (21 anos), Mário (21 anos) e Jorge Bernardo (20) completam o leque da juventude.

A bola foi rolando e a surpresa crescendo, com a equipa a conseguir somar boas exibições. Ao fim de sete jornadas, lidera isolada a Liga de Honra (cinco vitórias, um empate e uma derrota). "Comecei a acreditar que tínhamos equipa depois do terceiro ou quarto jogo. É que os jovens começaram a crescer, a acreditar e os resultados foram aparecendo", explica o presidente do Atlético, José de Almeida Antunes. "Temos boas relações com todos os clubes e eles permitem que os seus jovens talentosos passem por aqui. É a nossa sorte", sublinha.

"Estou certo de que tenho aqui alguns nomes que vão dar muito que falar no futebol", aponta, com algum orgulho, o técnico João de Deus, enquanto Almeida Antunes sublinha que se este ano existem mais atletas do Benfica, na próxima época poderão até ser do FC Porto. "Oh pá, toda a gente gosta do Atlético. Não nos damos mal com nenhum clube, por isso vamos ter sempre bons jogadores."

Graças a esta "amizade", o clube construiu um plantel competitivo por cerca de 300 mil euros. "Sem isso, nem 500 mil chegavam", afirma, lembrando que todas as despesas são controladas ao máximo. Na última jornada, por exemplo, para jogarem em Matosinhos, os jogadores saíram da Tapadinha às 7h30 e regressaram logo após o jogo, com o "jantar a ficar-se por umas sandes".

Os resultados são ainda mais surpreendentes, dado que o clube tem utilizado o antigo estádio do Estrela da Amadora para os jogos na qualidade de visitado. Mas já está em preparação a remodelação do velhinho Estádio da Tapadinha. "A Câmara de Lisboa já aprovou uma verba de 125 mil euros, agora só temos de arranjar mais 75 mil", conta, adiantando que a estreia em casa deverá acontecer em Janeiro, frente ao Belenenses.

"Um pouco de paciência"
Os jogadores continuam ainda sem conhecer a fama, mas os resultados não podem ser ignorados. "São jovens ávidos de aparecer. E estão a aproveitar da melhor forma a oportunidade", reconhece o treinador, lamentando que não exista uma aposta mais forte nos jovens portugueses. "Só é preciso um pouco de paciência para se conseguir elementos com muito talento".

Uma opinião partilhada pelos jogadores, que querem aproveitar esta oportunidade para regressarem aos clubes de origem. "Está tudo a correr muito bem e, como tenho cinco anos de contrato com o Guimarães, espero regressar o mais rápido possível. Estou a crescer muito enquanto jogador", refere Gonçalo Silva, que fez toda a sua formação no Barreirense, mas assinou na temporada passada pelos vimaranenses. "Assinei o contrato e fui logo a três estágios dos sub-20. A visibilidade é muito importante."

Hélio Vaz, por seu lado, espera que a actual crise obrigue os clubes a virarem-se mais para os jovens. "Todos queremos vingar no futebol e o meu sonho é regressar ao Benfica", remata. Zezinho, que tinha várias hipóteses de escolha, não resistiu à tentação do Atlético. A promessa do Sporting viu ali uma equipa competitiva, espaço para evoluir e a possibilidade de lutar pela subida. "Depois disso é que sonho regressar ao Sporting."

Mas o que leva os clubes mais fortes a emprestarem as suas jovens promessas? Um responsável de um dos três "grandes" explicou ao PÚBLICO que esta é a forma de dar competitividade aos atletas. "Não existe uma competição intermédia que lhes permita essa evolução", diz, adiantando que todos os jogadores são seguidos de perto. "Além disso, o facto de estarem num clube grande poderia criar algum comodismo, que seria prejudicial", concluiu.

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Texto: Público.

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