Marco Bicho

Depois de termos visitado a década de 1940 com Gregório dos Santos e Vital, passamos para o passado recente, em palcos mais modestos, mas com a mesma garra e entrega ao jogo que caracterizam o jogador "à Atlético".

Falamos de Marco Bicho, o «tractor» do meio-campo alcantarense por três épocas. Apenas três épocas chegaram para ficar na história do clube. Aliás, bastaria a primeira, mas o que fez e a atitude em defesa do grupo que teve, seria injusto falar apenas na sua primeira temporada em Alcântara.

Em Alcântara tocou o céu, e desceu ao inferno. No entanto será sempre lembrado por nunca ter virado a cara à luta.



O começo na pérola do Atlântico.
Marco Bicho iniciou-se nas lides do futebol com tenra idade, ainda infantil entrou nas escolinhas do Marítimo. Em juvenil saltou para o União da Madeira, mas completaria a sua formação já no continente, no «viveiro» do Barreirense.

Os primeiros anos no Barreiro.
O jovem médio, no seu último ano de júnior, começa a treinar com a equipa sénior do Barreirense, como era usual no clube do Barreiro. E faria a sua estreia a 30 de Agosto de 1998, contra o Imortal de Albufeira. Nessa temporada os Alvi-Rubros ficam às portas da 2ª Divisão de Honra, terminando em 2º lugar na Zona Sul da 2ª Divisão B.

Nas duas temporadas seguintes Marco Bicho acaba por não ser utilizado com grande regularidade, e acaba por ser emprestado ao Oriental. Em Marvila mostra apetetência pelas balizas e marca alguns golos, além de subir de divisão.

O regresso ao Barreiro acontece já com outro estatuto, e Marco Bicho agarra um lugar no «onze» Alvi-rubro, e durante quatro temporadas é o «patrão» do meio-campo barreirense.

A eliminação do F. C. Porto no Estádio do Dragão foi ponto alto na carreira do médio. Marco Bicho é o jogador com ar concentrado que se vê entre Ricardo Costa e Raúl Meireles. Já Vítor Baía não sorria da mesma maneira no final da partida.


A primeira passagem pelo Atlético.
No final da temporada de 2005/06 o Barreirense tinha sido uma das equipas despromovidas da II Divisão de Honra. Com seis temporadas na equipa do Barreiro, Marco Bicho decide dar novo rumo à carreira e assina pelo Atlético.

Em Alcântara assumiu-se como o motor do meio-campo de António Pereira, e faz uma época de grande regularidade, pese a subida de divisão ter escapado já perto do final da temporada. Marco Bicho revelou-se um poço de força e energia, disputando cada bola como se fosse a última, nunca virando a cara à luta. Cedo caiu no goto dos adeptos, e o sentimento era recíproco.

Mas essa temporada acaba por ficar gravada a letras de ouro na carreira do médio por outras razões. Foi em Janeiro de 2007 que o Atlético eliminou o F. C. Porto da Taça de Portugal em pleno Estádio do Dragão. Marco Bicho foi titular, com o número 8, e jogou os noventa minutos.

O médio nunca virava a cara à luta, e ganhou o respeito da bancada central pela sua atitude.


A passagem pelo Estoril e a aventura no estrangeiro.
A boa época na Tapadinha vale-lhe uma transferência para a Segunda Liga. O Estoril seria o seu destino, e na Amoreira duas épocas como titular, com ordenados em atraso pelo meio, fizeram um convite do Chipre algo de tentador.

No Doxa, da 1ª Divisão cipriota, Marco Bicho volta a conhecer o drama dos ordenados em atraso, e acaba por ficar poucos meses, surgindo um convite da terra dos seus antepassados: Angola. Em África volta a jogar, pelo 1º de Agosto. Mas os «Militares» perdem a Taça de Angola para o Interclube e vêm o título do Girabola ir para o Recreativo do Libolo. A mudança de treinador foi inevitável, e com a chegada de Romeu Filemon ao comando técnico do 1º de Agosto, Marco Bicho é dado como tranferível.

O regresso à Tapadinha, e um saída precoce.
Marco Bicho regressa a Portugal, e ao Atlético. Estreia-se na Pepe SuperCup, um triangular de pré-época organizado pelo Belenenses e que contou com a presença do Sporting. 2012/13 acaba por ser uma época de sofrimento. Além das constantes dificuldades que o Atlético atravessava, Marco Bicho tem uma lesão que o deixa de fora por 12 jornadas. No final tudo acabou bem, com o Atlético orientado por António Pereira a conseguir a manutenção.

A temporada seguinte parecia trazer ventos de bonança. A constituição de uma Sociedade Anónima Desportiva de capital chinês no Atlético trouxe Bruno Baltazar para o comando técnico, um antigo companheiro de Marco Bicho no Barreirense. A braçadeira de capitão e alguns reforços interessantes pareciam adivinhar uma época tranquila.

Foi tudo ao contrário. O afastamento de alguns jogadores-chave da equipa, a «lanterna vermelha» durante a segunda metade do campeonato, e, a gota de água, a goleada sofrida no Estádio do Dragão.

O Professor Neca, o terceiro treinador da época, resumiu de forma pequena a sua ambição para esse jogo dos oitavos-de-final da Taça de Portugal. "Temos 0,01% de hipóteses de vencer". Pior seria a estratégia utilizada, onde o Atlético entrou com seis médios e quatro defesas. Marco Bicho era o homem mais avançado, e no final do jogo disse o que todos os alcantarenses pensaram: "Perdemos por 6-0 e é muito mau. Quer seja com o F. C. Porto ou o Real Madrid".

Marco Bicho acabou a época a titular, com a braçadeira de capitão, mas teria o seu destino traçado fruto das constantes discussões do grupo de capitães em defesa do plantel. Seria dispensado.

No Atlético Marco Bicho contabilizou 105 jogos oficiais, nos quais marcou 12 golos. II Divisão B (25/3), 2ª Liga (68/7), Taça de Portugal (6/0), Taça da Liga (6/1).


Do Estágio do Sindicato a campeão nacional.
Acabado o contrato com o Atlético o médio encontrou-se sem clube. Com Hugo Carreira, Vasco Varão e Tininho seguiu para o Estágio do Jogador, iniciativa anual organizada pelo Sindicato de Jogadores.

O 1º Dezembro, do Campeonato Nacional de Seniores viu em Marco Bicho o jogador ideal para o seu meio-campo, e o médio assinou por uma temporada. E mostrou que estava vivo. Vivo o suficiente para despertar o interesse do Cova da Piedade.

Na Cova da Piedade vive uma época de sonho. Titular, capitão, numa equipa que muitos diziam ser de jogadores acabados, Marco Bicho sagra-se campeão nacional ao serviço do clube da margem sul, e regressa à Segunda Liga, já com 35 anos.

O regresso ao Oriental.
Esta temporada tudo parecia estar normal. O Cova da Piedade surpreendia, Marco Bicho jogava com regularidade. Até que em Janeiro o atleta rescinde contrato e fica sem clube. Por pouco tempo. Em Marvila estava um homem que sabia bem o que Marco Bicho vale. António Pereira não hesitou em dar o aval à contratação do médio, que regressava a Marvila quinze anos depois, agora um veterano, mas ainda com muito futebol para dar.


Época Clube Divisão Liga Taça de Portugal Taça da Liga
1990/91 Marítimo Infantis
1991/92 Marítimo Infantis
1992/93 Marítimo Iniciados
1993/94 Marítimo Iniciados
1994/95 União da Madeira Juvenis
1995/96 União da Madeira Juvenis
1996/97 União da Madeira Juniores
1997/98 Barreirense Juniores
1998/99 Barreirense Juniores
Barreirense II Divisão B 3/0
1999/00 Barreirense II Divisão B 16/01 1/0
2000/01 Barreirense II Divisão B 14/01 1/0
2001/02 Oriental III Divisã 31/8 1/0
2002/03 Barreirense II Divisão B 33/2 1/0
2003/04 Barreirense II Divisão B 17/1
2004/05 Barreirense II Divisão B 30/3
2005/06 Barreirense 2ª Liga 24/2 1/0
2006/07 Atlético II Divisão B 25/3 3/0
2007/08 Estoril 2ª Liga 29/5 2/0
2008/09 Estoril 2ª Liga 27/1 3/0
2009/10 Doxa Chipre 24/0
2010/11 Doxa Chipre 3/0
2011 1º de Agosto Angola
2012/13 Atlético 2ª Liga 29/4 1/0 3/1
2013/14 Atlético 2ª Liga 39/3 2/0 3/1
2014/15 1º Dezembro CP 26/4 1/0
2015/16 Cova da Piedade CP 29/4 3/2
2016/17 Cova da Piedade 2ª Liga 10/0 2/0

Oriental CP 10/2

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