Vital


A história de Vital é diferente do comum futebolista. Por causa dele o Atlético cortou relações com o F. C. Porto em 1948. E o clube de Alcântara ainda andou alguns anos de costas voltadas para o gigante do Norte.

Mas reduzir Vital à sua polémica transferência para a cidade invicta é omitir a classe e qualidade de um goleador, que deixaria legado nos azuis-e-brancos: o seu filho, Francisco Vital, chegou a ser campeão nacional com o emblema do dragão ao peito.

O Começo.
Eduardo Martins Vital veio ao mundo a 14 de Dezembro de 1924 em Lisboa. Até ao interesse do Atlético, Vital jogava nos "Onze Unidos" do Montijo. Do clube do Montijo o Presidente do Atlético, Alcino Pires, trouxe dois avançados para fazer companhia a Armando Carneiro, Rogério Simões, Carlos Martinho e Ben David: Caninhas e Vital. As transferências custaram 30 mil escudos ao clube alcantarense, com Vital ainda a receber 25 mil escudos de luvas.

A afirmação na Tapadinha.
Em Alcântara Vital esteve apenas uma temporada. Porém varreu a Tapadinha como se de um furacão se tratasse. Marcou 23 golos em 26 jogos, incluindo um "poker" ao Olhanense, numa vitória por 10-4, e "Hat-Trick" ao Braga e à Académica.

Vital destacou-se pelos seus golos e exibições, numa temporada em que o Atlético acabou o Campeonato Nacional da 1ª Divisão em 6º lugar e chegou aos quartos-de-final da Taça de Portugal.

O assédio do F. C. Porto.
Na segunda metade da época, e numa altura em que Vital mostrava grande apetência pelas redes adversárias, começa a surgir na imprensa da época o suposto interesse do F. C. Porto no concurso de Vital. A certa altura noticia-se que Vital havia recebido, das mão de um director, 10 mil escudos para alinhar pelos dragões.

A Direcção do Atlético, liderada pelo Capitão Alcino Pires, pediu satisfações ao jogador, que negou, por carta reconhecida pelo notário, que não havia recebido qualquer quantia de nenhum director do F. C. Porto.

No entanto, apesar do desmentido de Vital, os rumores continuavam, e eis que a Direcção do Atlético decide enviar um ofício ao F. C. Porto a perguntar se alguém indigitado pelo Clube havia aliciado o jogador Eduardo Vital. Não houve resposta. Toma então a Direcção do Atlético a decisão de informar a Direcção Geral dos Desportos da situação, e volta a enviar um ofício ao Porto que torna a não obter resposta.

Pouco tempo depois Vital pedia a transferência ao abrigo da lei vigente na altura. Se o atleta fosse ocupar um cargo na função pública o clube onde jogava tinha, obrigatoriamente, de o libertar.

Depois vem um conjunto de acções rocambolescas dos órgão que detinham o poder. A Direcção Geral dos Desportos indeferiu o pedido do jogador para, mais tarde, a Federação Portuguesa de Futebol decretar que, afinal, Vital estava transferido para o F. C. Porto.

Toda esta situação origina um corte de relações entre o Atlético e o F. C. Porto decretado pelo clube alcantarense. Um corte que ainda durou alguns anos, e que seria resolvido graças à acção conciliadora de Joaquim Ferreira Bogalho, presidente do... Benfica.

Em quatro anos na invicta, Vital talvez esperasse mais...
Depois da novela à volta da sua transferência, Vital estreou-se oficialmente pelo F. C. Porto a 7 de Novembro de 1948, em jogo a contar para o Campeonato Nacional da 1ª Divisão, contra o Sporting da Covilhã.

Porém o jogador nunca foi elemento de primeiro plano no onze azul-e-branco. Nunca chegou, por exemplo, à barreira dos 20 jogos numa época, apesar de ter números interessantes com a camisola azul-e-branca: 38 golos em 58 jogos.

Vital acaba por ficar ligado à história portista, não apenas pelo seu filho, mas por ter sido autor dos dois primeiros golos portistas no Estádio das Antas, na sua inauguração a 28 de Maio de 1952, num jogo onde o Benfica venceu o F. C. Porto por 8-2. Por esse motivo Vital teve a sua fotografia no átrio de acesso ao balneários, ao lado de Pinga, Valdemar Mota ou Artur Augusto.

O ocaso.
Depois de quatro temporadas no Porto, Vital tranfere-se para o Sporting de Braga, onde, apesar da primeira época razoável, acaba por ficar apenas dois anos, partindo então para o Tirsense e, depois, o Caldas.

Época Clube Campeonato de Portugal Campeonato Nacional Campeonato de Lisboa Taça de Portugal
1945/46 "Onze Unidos" do Montijo
1946/47 "Onze Unidos" do Montijo
1947/48 Atlético
26/23
1948/49 F. C. Porto
14/10
1949/50 F. C. Porto
14/10
1950/51 F. C. Porto
17/11 1/0
1951/52 F. C. Porto
10/6 2/1
1952/53 Sporting de Braga
26/10
1953/54 Sporting de Braga
8/2
1954/55 Tirsense
II Divisão
1955/56

1957/58 Caldas
12/5

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