Marco Bicho: «Vamos honrar a camisola»

Meio dia na Tapadinha. Fim de mais um treino de início de época, e um calor abrasador. Qualquer palmo de sombra é disputado. Os jogadores vão saindo do balneário. Eis que encontramos aquele que foi um dos motores do Atlético em 2012/13. Marco Bicho aceitou o repto para dar uma pequena entrevista ao Blog "Sou Atlético". Simpático, sem rodeios, sempre bem disposto.


Marco, conta-nos um pouco do teu percurso no mundo do futebol.
Comecei a jogar quando era miúdo, tinha 9 anos, nas escolinhas do Marítimo. Depois fui dos infantis para os iniciados. Mais tarde fui para o União da Madeira. Nos meus dois últimos anos de júnior voltei para o continente, para o Barreiro, e fiz os meus anos de júnior no Barreirense. No último ano de júnior comecei a treinar com os seniores.

Lembras-te da tua estreia como sénior?
Lembro-me perfeitamente! Contra o Imortal. Perdemos 1-0, em Albufeira. Com uma excelente equipa que nós tínhamos, não subimos de divisão. Na última jornada precisávamos de ganhar e empatámos. Tínhamos excelentes jogadores, craques mesmo, e para mim foi muito gratificante essa estreia.

Qual foi o clube que mais te marcou na tua carreira?
(Pausa) Isso é um bocado subjectivo. Todos marcaram de uma certa maneira. Houve alguns em que tive grandes momentos, outros que se calhar tive momentos menos bons, mas todos me marcaram.

Como é que te caracterizas como jogador?
(Risos) Essa pergunta é muito complicada... Não gosto... Nunca gostei de me auto-avaliar mas tento caracterizar-me como um jogador que dá tudo em campo. Só isso. Nunca gostei muito de me auto-avaliar, deixo isso mesmo para os críticos.

As passagens que tiveste pelo Estrangeiro em que medida é que contribuíram para seres o jogador que és hoje em dia?
Muito sinceramente não contribuíram para me tornar melhor jogador, com todo o respeito pelos treinadores com quem trabalhei. Todos tinham os seus bons momentos. Aprendi coisas, continuei a aprender, coisas novas, culturas novas. Mas muito sinceramente, tudo o que aprendi e as melhores coisas que aprendi, foi aqui em Portugal, não haja dúvida.

Na tua primeira passagem pelo Atlético(ainda na 2ª Divisão) deixaste boa impressão. O que recordas dessa época?
Recordo uma época difícil, uma época muito boa em que fiz um dos maiores feitos da minha carreira. Aquela eliminação do FC Porto (n.d.r. Marco Bicho fazia parte do onze que eliminou o FC Porto no Dragão, a 7 de Janeiro de 2007). Logicamente para um jogador que nunca chegou à I Divisão é muito gratificante. E fica um bocado marcada por não termos atingido aquele que se calhar era um dos objectivos, ficámos a 1 ou 2 pontos da subida. Acabou por ser um pouco frustrante.

Quando regressaste ao Atlético voltaste a trabalhar com António Pereira. Partiu dele o convite para ingressares no clube?
Não. Não partiu dele. Não sei se teve alguma influência porque na altura ainda não estava definido o treinador sequer. A primeira abordagem que me foi feita foi através do Presidente.

Vais para a tua segunda época seguida no Atlético(a 3ª no total). Mudou muita coisa desde a primeira passagem?
Não... (pausa) Infelizmente não mudou muito por... pelos problemas que todos nós sabemos, que são os problemas financeiros que atravessa o clube, e atravessa o país e os outros clubes todos. Apesar de o Atlético estar numa divisão superior aquando da minha primeira passagem, as coisas não mudaram muito. As pessoas se calhar pensam em mudar, mas é difícil devido à crise que o país sofre. Há menos apoios e por mais que as pessoas queiram, não conseguem. Mas nós queríamos que isto mudasse, que isto fosse para a frente, que tivesse mais condições... Porque é difícil combater equipas com mais condições. Há equipas que todos sabem que têm mais que nós, que não são tudo, mas que contam muito.

A época passada foi complicada, plantel curto, muitas dificuldades, algumas arbitragens que prejudicaram. Que balanço pessoal e colectivo fazes de 2012/13?
É, foi complicado. Em termos de lesões prejudicou-nos imenso. Chegámos a ter cerca de 4, 5 jogadores fundamentais na bancada. Tínhamos mais jogadores, mas que não tinham tanta experiência, o que acaba por ser importante. E nós vemos por qualquer equipa no mundo que se tirarmos 4, 5 jogadores, o rendimento caía um bocado. E isso prejudicou-nos imenso.
Em termos pessoais, foi uma época um bocado desgastante em que gostaria de ter feito um pouco mais. E tentarei fazer mais este ano.

E este ano, achas que os adeptos podem aspirar a mais do que o 18º lugar, ou vai ser sofrer até ao fim?
(Risos) É assim, promessas é uma coisa complicada de fazer... Mas é assim, o objectivo é, claramente, tentar a manutenção o mais depressa possível e evitar esse tipo de situação de lutar até ao fim e fazer contas... Agora, não podemos garantir nada. Até porque estamos numa fase em que não está tudo completamente definido.

Os derbys com o Belenenses são vividos de maneira diferente pelos jogadores ou é só mais um jogo?
Não. Nós temos que encarar os jogos todos da mesma maneira. Mas há jogos que é impossível encarar da mesma maneira. Um derby é sempre um derby, venha lá quem vier. Há sempre uns que sentem mais que os outros, mas é diferente. A envolvência à volta do jogo origina isso mesmo.

Tens alguma história engraçada que tenha acontecido no Atlético e que queiras partilhar?
(Risos) Tive bastantes episódios engraçados. Vou contar um que aconteceu com o mister Toni Pereira. Houve um mal entendido entre mim e ele no primeiro ano, em que eu passei mal a noite, tive uma gastroentrite muito forte, em que vinha com dois jogadores. E na altura o meu carro também não pegava! E cheguei atrasado 10 ou 15 minutos à convocatória e disse ao Varela - que vinha comigo - que estava mal disposto, e disse ao Gaio que o carro não pegava. Cada um contou a sua história ao mister e o mister percebeu totalmente o contrário.
Entretanto o Paulo Grilo até estava a mexer uma coca-cola, para tirar o gás, para travar os intestinos (Risos)... e o mister percebeu tudo ao contrário, percebeu que lhe estava a dar a tanga e que eu tinha ido para a noite. Bem, foi um filme ali no balneário... Mas com o tempo passou.

Jogaste alguns anos na II B, pelo Barreirense, o que recordas dos confrontos com o Atlético?
Joguei poucas vezes, porque entretanto o Atlético desceu. Mas recordo-me de uma equipa fantástica que tinham aqui. Abel Silva, Valido, Gaio, acho que o Varão também andava por cá... Era um campo complicado.

Se te pedissem para descreveres o que é o Atlético como é que definirias o clube?
É um histórico. É um clube que tem muito potencial, mas que por uma razão ou outra, está adormecido.

Há ainda a ideia de que os jogadores de futebol têm uma vida de sonho. Mas afinal como é a vida de um jogador da II Liga?
É uma vida normal. (Risos) Não foge muito ao normal. Estar com a família, os amigos.

Estás com 33 anos, tens perspectivas de continuar no futebol? Vamos ver um Marco Bicho treinador?
Gostava. Sinceramente gostava de ser treinador. O futuro o dirá.

O que achas da reformulação dos quadros competitivos da II Liga?
Só vendo como ficaria a disposição das duas zonas. As equipas do sul têm muitas dificuldades. E fazer viagens ao norte a cada 15 dias é bastante complicado.

Sem o futebol, como seria a Tua vida?
(Risos) Costumo dizer à minha mulher que casei primeiro com o Futebol e só depois com ela. Não me imagino sem o futebol.

Queres deixar alguma mensagem aos sócios, adeptos e simpatizantes do Atlético?
Vamos trabalhar para atingirmos os objectivos. Vamos honrar a camisola.

Entrevista conduzida por Hugo Costa.

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