Hipólito não vai a votos

Tem 49 anos e é o rosto de uma franja de adeptos que não concorda com o actual rumo do clube. Pertencente a uma família da Fonte Santa com 3 gerações  de alcantarenses. O pai foi dirigente, ele e o irmão jogaram futebol nas camadas jovens do clube.
Ficou conhecido pela agressão a Miguel Rosa, do Belenenses. Mas Armando Hipólito tem muito mais para mostrar.

Armando, como se tornou adepto do Atlético?
Eu tornei-me adepto do Atlético através do meu pai que era sócio do Atlético à muitos anos. Alfredo da Silva Hipólito, que foi Presidente do Conselho Fiscal. A minha família é alcantarense de, pelo menos, três gerações. Pratas, que foi do Carcavelhinhos para o FC Porto, Admar Hipólito que foi do Atlético para o Sporting e Baltasar que fez o mesmo caminho, são meus familiares. O meu sobrinho era o treinador dos juniores que foram campeões da II Divisão o ano passado. Eu comecei a ir à bola à Tapadinha com o meu pai tinha eu os meus quatro anos. A partir daí comecei a vibrar pelo Atlético.

Que cargos desempenhou no Atlético?
Fui Director de Equipas, de juniores e juvenis. Fui Director de Segurança para a Liga Portuguesa de Futebol. Com quem mais trabalhei, efectivamente, foi com a parte da formação. Estive lá quatro anos.

O que relembra desses tempos com a formação do Atlético?
As recordações que tenho são muitas e boas. Hoje acabei de sair de um jogo (n.d.r. a entrevista foi feita após a vitória sobre o Desp. Aves) e os seniores de primeiro ano que estão no plantel do Atlético vieram todos ter comigo para me abraçar e cumprimentar. É aquilo que tenho de mais gratificante. Os momentos que passei com os jovens, vi-os a crescer, a formarem-se como homens e sinto que irão ter sempre uma presença marcante na minha vida.

Quando foi Director de Segurança no Estádio da Reboleira fez correr alguma tinta a agressão ao Miguel Rosa, do Belenenses. Quer explicar o que se passou naquele momento?
Sim, não tem problema nenhum. Eu sou Atlético dos quatro costados. Tenho 49 anos, e logo de pequenino uma das heranças que nós recebíamos era que o Belenenses era o nosso rival. Rival em tudo. E o que aconteceu nessa época foi que o Miguel Rosa, no primeiro jogo da Liga que foi no Restelo, ele veio dizer que não jogávamos nada e ofendeu o Atlético. Posteriormente continuou a ofender o Atlético nos jornais, sem razão aparente, que nós ia-mos à frente e que não jogávamos nada.
Na Reboleira teve um comportamento indecoroso. Eu, derivado ao cargo que ocupava, não deveria ter feito o que fiz. fiz porque ele ofendeu o Atlético, e ao ofender o Atlético está a ofender uma instituição que eu aprendi a amar. Era o clube do meu pai, era o clube do meu avô, é o meu clube. E nesse aspecto é difícil para mim levar essas situações para casa. E então aconteceu. Dirigi-me a ele quando acabou o jogo, chamei-o e aconteceu o que todos sabem.

É uma das vozes críticas da actual direcção. A partir de que momento sentiu que o clube precisava de outro rumo?
Foi quando estive inserido na estrutura do clube, quando vi como o clube era gerido. Tive a noção de que o clube necessitava de gente nova e também tive a noção que as pessoas que se aproximavam para ajudar eram rejeitadas. E a partir da altura em que se deu o caso do Miguel Rosa, tive um período de reflexão, e foi esse período de reflexão que me levou a ser uma voz crítica.

A sua lista incluía nomes como Fernando Varão, Manuel Brito ou Abrantes Mendes, entre muitos outros. Foi difícil mobilizar essas pessoas?
Não, absolutamente. Foi preciso explicar-lhes a intenção que eu tinha. Para isso tive que me deslocar às pessoas, tive que falar, explicar o meu projecto. As pessoas viram em mim um rosto de uma possível mudança no clube. Fizemos uma frente unida e em pouco tempo conseguimos mobilizar desde juízes e advogados a estivadores e carpinteiros. Todos eles com um amor em comum: o Atlético. Atléticos humildes, mas Atléticos de coração.

Na sua visão, no imediato, que erros aponta à actual gestão?
Antes de tudo, é preciso dizer que houve coisas boas. Não nos podemos esquecer que foi o Senhor Almeida Antunes que conduziu o clube de volta aos campeonatos profissionais passado tanto tempo. Mas, apesar disso, a actual direcção - e todas elas, já que estamos a falar de duas décadas e meia - tem tido falta de clareza. A falta de esclarecimento, acima de tudo. Falta de transparência.
E ao não haver transparência criam-se tabus e mitos. Tabus e mitos que depois qualquer um diz o que quiser porque a direcção não vem esclarecer. E ao não esclarecer cria problemas graves que os sócios acabam, invariavelmente, por dar uma imagem terrível porque andam sempre a vilipendiar quem não pertence à direcção. Eu fui alvo de um processo de difamação, todos os que têm uma opinião diferente acaba por ser vilipendiados, já não somos Atléticos... Quer dizer, os poucos que somos acabamos por andar em guerras uns com os outros. Eu nunca me defendi, sempre dei a cara. Sempre entrei na Tapadinha sozinho e sempre estive pronto para a confrontação verbal se houvesse algum problema. Tenho todo o gosto em esclarecer quem se dirige a mim. Mas o que se assiste é que em vez de perguntarem e se esclarecerem optam pela crítica fácil e pela mentira.
O Atlético só cresce com divergências de opiniões e o debate informado, como em tudo na vida. Porque damos uma imagem errada para fora, para os outros clubes que se divertem a ver esta situação. Nós somos poucos, devíamos respeitar-nos mutuamente, e respeitar as ideias que sejam diferentes.

É, então, da opinião que a situação actual do futebol profissional já deveria ter sido esclarecida publicamente?
Há muito tempo! Esta situação que acontece internamente, com tanta indefinição, ainda vai custar caro ao clube. Não sabemos se o Almani Moreira é investidor ou pertence a uma SAD. A mim parece-me que a presença dele indica a criação de uma SAD. Essa SAD, pelo que sei, o prazo já expirou. Mas lá está, os tais tabus que a direcção teima em não esclarecer publicamente. Porque isto não devem ser os sócios a ir perguntar directamente ao presidente. Deve ser algo explicado publicamente nos meios apropriados.
Hoje vejo que a espinha dorsal que vinha a jogar foi posta de lado, os miúdos que subiram a seniores foram todos dispensados depois do fecho das inscrições...
E eu pergunto... Pergunto não! Afirmo! Se isto vai dar uma SAD, alguém que vem de fora meter dinheiro, nós, sócios, perdemos a voz. Hoje ganhámos, Graças a Deus, mais 3 pontos. Mas vimos que há ali seis jogadores que eram titulares de caras e saíram da equipa sem razão aparente. E ninguém explica o que se passou. Os sócios têm que ser esclarecidos sobre o que se está a passar.

Apesar da vontade, apesar das críticas, apesar da lista, a AG que convocaram foi recusada.
Sim, foi recusada. Recebemos uma carta a dizer que nós pretendíamos, entre outras coisas, derrubar a actual direcção. O que é mentira. A única coisa que nós pretendíamos é que, efectivamente, as eleições fossem antecipadas para Maio. E tem uma razão lógica. Porque em Maio é que se começa a preparar uma época desportiva. Não tem lógica uma pessoa que vem de fora concorrer. Já se viu que em Setembro não é por causa da Liga. A Liga não tem nada a ver com as eleições dos clubes.
Na altura os meus companheiros e eu conversámos e colocámos a hipótese de avançar com uma providência cautelar. Mas o amor pelo Atlético falou mais alto, seria o clube a ficar prejudicado caso fôssemos para a frente. Por isso vim para os jornais dizer que retirava a candidatura de imediato para que a presente direcção pudesse planear a época com tranquilidade.
Isto acaba por ser uma passagem, acaba por ser uma monarquia. Só quem está lá dentro é que pode assumir a direcção porque sabe o que se passa. Conhece os cadernos, as pastas... Ninguém consegue saber o que se passa cá fora. E em 25 anos, a minha lista, os meus companheiros, fomos os únicos que fomos à carga. Agora vamos ver quais são as listas que se vão apresentar.

Vai a votos no dia 28 de Setembro?
Não. Sou coerente. Eu disse que nunca ia a votos em Setembro. Nem levaria ninguém para a forca, não faz sentido. E dou-lhe já um exemplo. Você pega numa firma, eu vendo-lhe uma firma barata, e depois você pega na firma e tem todos a bater-lhe à porta. É que ser hoje presidente de um clube, segundo a lei, é o presidente que vai ter que responder perante as autoridades, com ou sem culpa dos negócios passados. Se não houver património e bens alienados, recai tudo sobre o presidente. E eu não posso arrastar pessoas atrás de mim numa situação de Cruzada. Eu faço essa Cruzada no dia em que houver transparência no Atlético. Na última AG eu disse que tinha uma empresa pronta a fazer uma auditoria às contas. Aliás, tudo o que apareceu escrito nos jornais, eu afirmei-o primeiramente na AG, que é onde se deve dar a conhecer as coisas.


Uma das muitas coisas que lhe apontam é que não é Atlético, que é infiltrado, que não tem credibilidade...
Para se ser Presidente do Atlético, ou para se ser dirigente do Atlético, quando falam que tenho falta de credibilidade, não sei o que querem dizer. Nunca roubei nada a ninguém, tenho uma micro-empresa que tem tudo em dia com a Segurança Social e as Finanças, não devo nada a ninguém. Portanto... Penso que credibilidade é uma pessoa ser trabalhadora, ser honesta e ser transparente. E além destas particularidades, estar rodeado de pessoas, que também elas reúnem estas particularidades. E você olha para os nomes que compõem a minha lista e vê o Professor Carlos Dinis, Carlos Móia, entre outros, pessoas que têm credibilidade na praça e são competentes. E essas pessoas não me iam apoiar se eu não fosse alguém credível. Não são crianças a quem se dá um doce e fica tudo bem. São homens com muita experiência de vida e provas dadas.

Quer deixar uma mensagem para os sócios, adeptos e simpatizantes do Atlético?
Tenho, com certeza. Peço a todos os adeptos que se unam em torno do clube.
Mas apesar de tudo há grupos de Atléticos que funcionam de uma maneira que, na minha opinião, não é correcta. Alguém diz algo que não está de acordo com a direcção e já é um malandro, já é isto, já é aquilo. Peço que essas pessoas se abram ao diálogo, pensem pela própria cabeça e façam algo muito importante: escutem. Escutem e reflictam.
Eu posso gostar muito de uma determinada pessoa, mas se essa pessoa estiver errada eu falo. O Atlético tem uma massa adepta rica, muitos deles nem aparecem na Tapadinha porque não se revêm. E acabamos por perder essa mais-valias porque estamos fechados numa concha. E há um sector de sócios que gosta de estar fechado nesta concha. O Atlético tem que ser gerido para o futuro e não para o passado. A não ser que a gente queira continuar a dizer que o Atlético é um histórico. Senão vai ser um histórico para sempre e vamos para lá apenas para limpar o pó.
O Atlético tem que aproveitar a sua formação. Tem que aproveitar o espaço publicitário. Tem que aproveitar as mais-valias dos sócios que estão bem colocados na sociedade. Nada disto está a acontecer. Se isto não acontece o futuro vai ser negro. Uma época nesta divisão custa à volta de 700000 €. A Liga dá 275000€, e é a única coisa que dá. O Atlético tem que arranjar receitas. Como? Mobilizando os sócios que tem e que têm influencia no mundo empresarial. Sócios esses que têm que estar prontos a ajudar o Atlético sem interesses obscuros.
Mas quando damos a publicidade a intermediários quando há pessoas que faziam isso de borla...
Há muitas perguntas que devem de ser feitas. Mas não devem de ser vistas como perguntas do contra ou para desestabilizar. Elas têm que ser feitas. Nós, sócios, temos o direito de saber. Mas de uma forma construtiva. E eu não posso andar de boca fechada, nem ter medo de fazer perguntas, só porque alguém fica incomodado.

Fotos: Facebook de Armando Hipólito.
Entrevista conduzida por Hugo costa.

2 comentários:

  1. Conheço o Atlético de nome e já à longos anos, pois uma parte da minha família nasceu e foi criada em Alcantara e conhecia esta Familia e nada nunca houve apontar, e é triste ver um clube deste afundar, mas lá está a falta de dialogo entre as pessoas nos dias de hoje é: " O pão nosso de cada dia", infelizmente não é só aqui é no geral. Quanto a este SENHOR que é aqui entrevistado, se há pessoa integra, honesta, trabalhadora, aberta a novas ideias quer para o clube quer para o bem estar de quem o rodeia e não só... é este GRANDE SENHOR ARMANDO HIPÓLITO, quem tem a "lata" de o criticar neste sntido, com toda a certeza, não conheçe o intimo deste grande Sr. e é pena, pois teriam uma mais valia na vida. ARMANDO HIPÓLITO és um SENHOR DE LETRA GRANDE, quem disser o contrário que se dane, pois orelhas de burro não chegam ao céu! Nunca deixes que te afetem com certos comentários, pois quem conheçe o ser que és, as injúrias e falsas acusações passam ao lado. Força ai campeão, estamos contigo e com o Atlético!!

    Beijinhos Sara Ferraz

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  2. Qual será a justificação para que, como se refere na entrevista ... alguém ter tomado a decisão de, ir fora buscar jogadores ... tendo no Clube, jogadores da formação que não seriam inferiores aos "para-quedistas" que para cá trouxeram.?

    Será uma exigência ou imposição do sr.Director Desportivo .?

    O sr. Director desportivo ... também vai jogar.!? ou não, será que é uma brincadeira.!? ... ou tamos numa de ... solteiros e casados.?

    Será que também aqui nesta casa dá para se fazerem "negociatas", como se vê nos "grandes" de entra e sai de jogadores ..... para alguém ... ou alguns ... "arrecadarem algum".!.?
    .............................................................................................
    vou-a-Tapadinha
    Rogério Moreira


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