Imran Cunha: «Objectivo? Subir de divisão»


Imran Miguel Alves Cunha, ou João Cunha. Um homem apaixonado pelo futsal, converteu-se ao islamismo e mudou o seu primeiro nome. É um dos treinadores do Atlético, juntamente com Davide Sousa. Já passou pela Líbia, Qatar, Angola, Selecções de Lisboa, e muitos outros.

Simpático, afável, aceitou sem rodeios o pedido para uma entrevista. Nos escritórios da secção de futsal do Atlético desvendou alguns dos seus segredos, contou-nos um pouco da sua história.

Fique a conhecer um pouco mais do treinador que segue invicto na Série D da 3ª Divisão.

Imran, conte-nos um pouco do seu percurso no Futsal.
Eu jogava futebol juvenil, júnior...  depois parti o pé, a tíbia, rotura de ligamentos... Na altura não era como agora, as operações, os seguros... A recuperação foi muito lenta e acabei por desistir de tudo. Aos 19 anos era treinador de Futebol de 5 do Odivelas. Foram largos anos como treinador de juniores. No Odivelas, no Clube Académico de Odivelas e no Atlético Clube de Odivelas - clube que até já foi campeão de juvenis e juniores - depois Estrela da Amadora e Benfica, também em juniores. A partir daí passei para os seniores. Entretanto também já tinha as selecções. Selecção de Lisboa durante quatro anos, sub-17/18/9, depois voltei aos sub-17. A seguir cheguei aos seniores do Portela, na 2ª Divisão. Odivelas novamente, dois anos, já com o Davide Sousa. Quando estava no Odivelas estive, também, na selecção de Angola. Depois o Ismailitas, na 2ª Divisão.
Mais tarde tive uma rotura com este mundo e fui treinar os femininos do Quinta do Lobo, de onde saí a meio da época para o Qatar SC. Estive dois anos no Qatar. E agora estou cá, no Atlético.

Qual foi o clube que mais marcou a sua carreira?
(Pausa) Como sénior a Portela marcou-me. Positivo e negativo. Os resultados foram muito bons, mas houve também alguma falta de experiência. Acabei a época mas não fiquei lá, com pena minha.

Personalidades no mundo do Futsal que admira?
Rogério Mancini, treinador que está no Qatar. Conheci-o lá, mas já era uma pessoa que admirava. Fernanda Pissarra, da Quinta dos Lobos. Uma visionária do Futsal na metodologia. O Davide Sousa, obviamente.
Como jogadores é fácil falar dos melhores. Vou falar do Leonísio. Um jogador que tive no Qatar, o Flavinho. Muito bom. Extremamente profissional.

Ser treinador, é a posição mais ingrata numa equipa?
Não. A posição mais ingrata acho que é o Guarda-Redes. E treinador é ingrato. Mas se tivermos cuidado acho que não é assim tão ingrato.

Prefere modelar a equipa à táctica ou a táctica à equipa?
Depende da equipa. Se for uma equipa muito homogénea, obviamente, é melhor modelar a táctica à equipa. Se for uma equipa extremamente heterogénea, em que há uma diversidade de personalidades e técnico-táctica individual nos jogadores, é melhor modelar a equipa à táctica.

O trabalho de um treinador é muito extenso, mas pode ser orientado com base em filosofias e ideias. No seu ponto de vista, e em geral, quais as filosofias deve seguir um treinador?
Tem que se estabelecer objectivos a curto-médio prazo. Objectivos pontuais e não só. Ou seja, temos que definir um objectivo para a equipa que temos, para o campeonato em que estamos.
Dentro do aspecto técnico-táctico arranjar a melhor metodologia e ser fiel a isso tudo até ao fim.

Muitos treinadores acreditam que deve ser mantida uma certa distância entre Treinador e Jogador, outros acreditam que as ideias do jogador são fundamentais. Em que é que ficamos?
Eu acredito que as ideias dos jogadores são fundamentais e, embora seja apenas a minha opinião, nós evoluímos muito com os jogadores. No confronto de ideias, na salvação de uma equipa, na ajuda da equipa, é aí que nós vamos evoluindo e aprendendo alguma coisa com as necessidades dos jogadores e da equipa.

Quais os aspectos que considera fundamentais para formar a base de uma boa equipa?
A união. A disponibilidade. Isso tem a ver com aspectos que vêm já dos jogadores, mas que podem ser incrementados. E ser fiel à metodologia. Se nós optamos por uma determinada maneira para atingir os objectivos temos que ser fiéis e não desviar desse padrão.

Qual é a importância do plano psicológico de uma equipa?
Fundamental. Nada se pode dividir em percentagens. Tudo tem o seu peso. Não se pode dizer que o aspecto psicológico é 50%, porque se o jogador estiver mal psicologicamente ele cai 100%. Da mesma maneira fisicamente e tacticamente. Psicologicamente abrange várias cosias, mas em termos mais específicos, a motivação é a base para se andar.

Majó é o jogador mais conhecido do actual plantel. Qual é a importância de ter um jogador com o seu currículo na equipa?
É uma vaidade! Falo por mim, é uma vaidade. O Majó foi daquelas pessoas que eu me habituei a ver jogar, que admirei - ele entre outros. E agora vejo-o aqui, a ser treinado por mim e eu a ser treinado por ele. É uma vaidade, é uma honra. Principalmente pela pessoa que ele é, e pelo Atlético que é. É soberbo.

Trabalhou no Qatar. Qual é a motivação para treinar numa realidade, social e cultural, tão diferente da portuguesa?
Bem, realmente em termos motivacionais eu não treinei Futsal, eu treinei relações. É muito complicado treinar um jogador que vai de Ferrari ou Maserati para o treino. Não é profissional, faz apenas aquilo por hobby, o emprego dele fá-lo rico. Tive que superar algumas barreiras. Vamos treinar assim para marcar golos... Isso não acontece. Temos que treinar no balneário, fazê-los vir ao treino era fundamental. E depois criar algumas fantasias para os motivar. Se algum jogador fazia aniversário tínhamos que fazer um dia especial, algo que não se caracteriza no aspecto islâmico ou árabe. E foi assim que conquistei o grupo e fiquei lá dois anos. Algo raro naquela equipa, e tenho muitas saudades.

Objectivos do Atlético?
Subir de divisão.

Apesar de ser a sua primeira época, se lhe pedissem para descrever o clube, como o definiria?
Eu não conheço o clube, peço desculpa. Conheço a secção do Futsal que somos nós. É o Nuno, é o Nando, é o Carlos, é o Senhor Vermelho, é o Ratinho, este é o Atlético. Eu tento ser muito observador, às vezes falho, mas na primeira semana percebi que era um grupo excepcional e fácil de conquistar. E nós fomos conquistados por eles também. Acho que estamos no bom caminho.

Quer deixar alguma mensagem aos adeptos do Atlético?
Venham apoiar o Atlético. Temos um jogo interessante, para quem é apenas adepto clube e não do Futsal. Temos um jogo interessante e acho que podemos cativar as pessoas para nos apoiar. Temos objectivos muito concretos e com a ajuda dos adeptos fica mais fácil atingi-los.

Entrevista conduzida por Hugo Costa. 


1 comentário:

  1. Uma entrevista bem conduzida e um entrevistado "que vale a pena". Gostei, no geral de toda a entrevista. Ficámos a saber mais da nossa equipa de FUTSAL.

    Gostei de alguns "pormenores" em especial, como o facto de João Cunha, ter sido treinador no Futsal -feminino- Quinta dos Lombos. Também treinei a equipa de futsal feminina, do G.C.Estrela Amadora, na 1ª.div.Dist.AFL., na altura ainda não estava a Q.Lombos na 1ªdiv., eram as raparigas do Del Negro,Real,Lobinhos, Enc.Olivais..etc.. já lá vão uns 12 anitos.

    Gosto de Futsal! ainda joguei nos inícios das "definições" do - Futsal..Salão..Cinco.- Alguns torneios, na altura ainda se jogavam, com a utilização de tabelas- Fonte Santa, Madre Deus, Inatel e Ramiro José-. .. as bolas não podiam subir acima dos joelhos.
    No Torneio -Eusébio- aí sim, já foi jogado no Pavilhão do Belenenses e, já era o mais próximo do Futsal de hoje. ... que saudades.

    Curiosa também, aquela situação de treinar no Qatar, os jogadores que se faziam transportar de Ferrari. Deve ter sido "obra" pôr aqueles "meninos" a encarar com alguma -seriedade- o jogo as suas regras e os comportamentos necessários.

    Curiosa também (mas pessoal) a sua adesão ao Islamismo (infelizmente tão conotado com algumas coisas, não muito boas) Não sendo, aderente a qualquer religião, acho curioso, o facto de, nos dias de hoje, ainda se ser crente, com tantos "crimes" que se cometem às "sombras" das várias religiões. Acredito mais, na -boa-fé- das pessoas.

    Gosto muito desta nossa equipa de Futsal, do seu projecto e do seu desempenho, estão sem dúvida, a HONRAR este nosso clube o ATLÉTICO. Pena a questão dos equipamentos, não serem os do Clube.

    Espero que, no próximo jogo na TAPADINHA, o nosso Pavilhão, se componha mais do que no ultimo jogo. e Bem-Hajam ... jogadores-técnicos-dirigentes do FUTSAL.
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    Vou-a-Tapadinha
    Rogério Moreira



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