Nuno Silva: «Não somos a secção de Futsal. Somos o Atlético»

Pouco faltam para as 21 quando começam a chegar os guarda-redes, os primeiros a treinar. Nuno Silva chega bem antes. Foi guarda-redes, jogou na 1ª Divisão com a camisola do Atlético. Foi da 1ª Divisão à Distrital com o clube. O Atlético faz parte do seu ADN. «São muitos anos» diz-me com um sorriso nos lábios. Aos 35 é um dos responsáveis pela secção de Futsal do Atlético, e quem dá o treino aos Guarda-Redes.

«Aqui ninguém recebe nada, são todos amadores» confessa. Mas uma breve passagem pelos resultados da última época, e para dentro da quadra, mostra-nos uma realidade bem diferente. Sim, não são remunerados, mas a garra, a vontade, o querer, são de profissionais. Treinam três vezes por semana, após saírem dos seus trabalhos. Sacrificam a sua vida pessoal para treinarem e jogarem pelo Atlético. No fundo é a génese do que é ser Atlético. Pessoas trabalhadoras e humildes, mas com vontade e um orgulho enorme em representarem as nossas cores.

Nuno levou-nos a conhecer os meandros da sua secção. Mostrou-nos as Taças, as camisolas, os galhardetes. Uma viagem ao passado onde recorda «os grandes tempos em que lutávamos taco-a-taco pelos primeiros lugares da 1ª Divisão». Hoje sobram as memórias. Mas também existe a vontade de levar o clube para a divisão que merece.

Nuno, quais são as tuas funções na secção de Futsal do Atlético?
Sou um dos responsáveis pela secção. Fui convidado quando acabei de jogar, e estou junto com o Fernando Antão e com o José Vermelho na parte dos iniciados.

Taça da Divisão de Honra da AFL.
Como surgiu o actual projecto de Futsal no Atlético?
Surgiu numa altura muito difícil. Estivemos para fechar as portas e fui um bocado encostado à parede porque o rumo que a secção tinha tomado não era o melhor. Tinham-se perdido os objectivos. Praticamente só existíamos para haver a modalidade.
Há três épocas atrás houve uma mudança clara. Tínhamos que levar o Atlético onde merece. Eu ainda era jogador nessa altura, fizemos uma aposta clara que tínhamos que ficar nos cinco primeiros lugares para mudar a imagem da secção. No ano anterior as coisas estavam um pouco complicadas. Havia muita desorientação porque não havia ninguém a liderar.
Fomos ambiciosos com a escolha do treinador. Fomos buscar um treinador que tinha acabado de ser campeão da Honra, que foi o treinador que acabou por subir o ano passado, que é o Pedro Nobre - Hoje em dia é o treinador de seniores femininos do Benfica. Reformulámos a equipa toda, cerca de 90% dos jogadores saíram. Acabámos por ter resultados brilhantes, ficámos a dois pontos da subida. Por outro lado acabou por ser frustrante porque andámos o ano todo nos primeiros lugares, e a três jornadas do fim acabámos por ter um empate inesperado contra o último classificado. No ano anterior não descemos por um ponto e na época seguinte por pouco não subimos.
Depois tivemos um revés grande e a secção esteve quase para acabar outra vez. No final da época saiu toda a gente outra vez, inclusive o treinador. Nessa altura o desespero apoderou-se de nós. Estivemos para acabar. São muitos anos a lutar pelo Atlético e depois ficar-mos quase sozinhos outra vez... Fiquei com o capitão, o Guedes, o sub-capitão, o Roger - pessoas que adoram o clube e estão cá há muitos anos e eu sabia que não me abandonavam - e dois jovens jogadores. A época passada começou com esses quatro jogadores.
Depois de uma noite em branco decidi que o Atlético não merecia essa desfeita. Falei com o Fernando Antão, que é um antigo futebolista do clube, e ele aceitou na hora colaborar com a secção. A partir daí começamos a tratar do treinador, dos jogadores, e por aí fora. Formámos um grupo excepcional que nos levou à vitória no campeonato.

A secção tem ou pretende ter actividade nos escalões de formação?
Temos iniciados desde o ano passado, que é o José Vermelho que está a liderar e um treinador de renome que é o José Louçã. E agora este ano temos o projecto das escolas com o Majó, que é uma lenda do Futsal português.

Que acções estão previstas para alargar o recrutamento nas camadas jovens?
Isso é ainda um bocado vago. Infelizmente há clubes que têm condições que nós não temos. E é muito difícil recrutar jogadores com a qualidade que nós pretendemos para a formação do Atlético. Neste momento vivemos do 'passa a palavra'.

Os jovens que queiram jogar Futsal no Atlético, como devem proceder?
Basta irem à secretaria da piscina, é lá as inscrições para as escolas. Ou então vão ao Pavilhão a partir das 18 horas, basta perguntarem pelos responsáveis pela secção que responderemos às perguntas.

Na época passada o Atlético venceu a Divisão de Honra da AFL. Quem foram os responsáveis pela equipa, que ilações foram tiradas e como vai ser o futuro?

Responsáveis pela equipa em termos de dirigismo fui eu e o Fernando Antão. Como treinador foi o Pedro Nobre. Embora quem tenha começado como treinador tenha sido o André Rodrigues que neste momento está a treinar o Vinhais.
Corremos um risco muito grande... À 7ª jornada em primeiro lugar mandámos o treinador embora. Corremos o risco de não atingir o objectivo traçado, mas a equipa estava no limite para fazer uma coisa muito má. Não interessam os motivos, mas o treinador não correspondeu ao que esperávamos. Apesar de ser uma excelente pessoa, mas isso não leva a tudo. Fomos buscar o Pedro Nobre e fomos campeões. Da primeira à última jornada sempre nos primeiros lugares.

Para esta época quais são os objectivos do Atlético?
(Pausa) Subir de divisão.

Esta época, apesar de ter começado com um empate a 4 em Faro, já vai em duas goleadas expressivas e no topo da tabela. É para manter?
Eu gostava. (risos) Não sei se será possível, mas eu gostava. Trabalhamos todas as semanas para ganhar. Seja por 1-0, seja por 15-0. Sabemos que não vai ser fácil, mas as outras equipas têm que provar que são melhores que nós! E isso não é fácil.

Que indicações podes deixar sobre a actual dupla de treinadores?
O treinador principal é o Davide Sousa. É um treinador que já esteve vários anos na 1ª Divisão, com excelentes resultados. Estamos a gostar de trabalhar com ele e os jogadores estão surpreendidos pela positiva. O Imran Cunha é um treinador que já tinha trabalhado com o Davide, treinou a selecção de Angola e veio agora do Catar. O Davide convidou-o e, inesperadamente, ele disse que sim. E é outra pessoa que nos tem surpreendido pela positiva.

E sobre o actual plantel?
O actual plantel é, basicamente, o mesmo do ano passado. Temos onze renovações. Não são doze porque um jogador teve que abandonar por motivos profissionais. Depois entraram dois guarda-redes e três jogadores de campo. Os cinco foram minuciosamente escolhidos. Muita pesquisa, muita procura, para saber como eram as pessoas fora do campo. Porque para nós é mais importante a pessoa do que o jogador. Estão já todos perfeitamente integrados no plantel. Ninguém nota que são contratações.

O Majó é, claramente, o nome mais sonante. Qual é a importância de ter um jogador com o seu passado no grupo de trabalho?
O Majó é um jogador que toda a gente conhece e é escusado de estar aqui a dizer quem ele é como jogador. Um jogador que tem 50 internacionalizações não é um jogador qualquer. Como pessoa é à Atlético. É alguém que sofre com as nossas dificuldades como secção, trabalha muito e, apesar dos 39 anos, nos treinos continua a ser um exemplo para todos. É o primeiro a puxar pela equipa e, infelizmente, só podemos ter 3 capitães. Mas o Majó é um capitão sem braçadeira.

Como é financiada a actividade desportiva da secção de Futsal? Qual o papel da direcção do clube neste aspecto?
O clube ajuda naquilo que pode, que é pouco. Temos que arranjar o resto dos subsídios para conseguir levar a secção para a frente.

Uma das críticas que os sócios fazem frequentemente é que o Futsal alinha com equipamentos que violam os estatutos do clube. Porque é que isto acontece?
Isso é simples de responder. Estou há muitos anos no Atlético, e a secção, por indisponibilidade do clube, nunca nos conseguiu dar um equipamento para jogar. E de há uns anos para cá nós sempre tentámos cumprir os estatutos. O Fernando Antão é representante de uma marca que não tem para venda a camisola listada que é a nossa preferência. E nós não conseguimos ter. Como somos nós que compramos todo o material, não temos capacidade financeira para mandar fazer.

Queres deixar uma mensagem aos sócios, adeptos e simpatizantes do Atlético?
Eu gosto muito do Atlético, e acreditem que ninguém gosta mais do Atlético do que eu. Podem gostar tanto como eu, mas mais não. E que gostem tanto como eu, sei que há milhares de pessoas.
Mas lembrem-se de que o Atlético não é só o futebol. O Atlético é o Futsal, o Basket, a Dança, a Piscina, é tudo! Por isso é que somos o Atlético. Não somos a secção de Futsal, do Basket... Somos o Atlético.
Lembrem-se das pessoas que com muito sacrifício treinam três vezes por semana até à meia-noite. Sem ganhar um tostão. Que lutam todos os jogos para dignificar o Atlético.
É só isso que quero dizer. Que apoiem as modalidades. No meu caso que apoiem o Futsal.

Entrevista conduzida por Hugo Costa. 


1 comentário:

  1. EXCELENTE entrevista esta sr. Hugo Costa. ao Homem do nosso FUTSAL. Por incrível que parece, ainda existe o chamado .. AMOR à CAMISOLA .. estes rapazes do FUTSAL e a sua atitude, aí estão para mostrar que, os "mercenários" não existem no FUTSAL do ATLÉTICO.

    EQUIPAMENTOS .. Temos todos .. Sócios, Adeptos e amigos, que encontrar forma de por estes "rapazes" a jogar com equipamento iguais aos do Fut-11. haverá de certo formas de arranjar a verba necessária para a aquisição dos equipamentos entre todos nós (evidentemente os que possam). .. rifas..leilão.. haverá uma forma. Saber no fabricante do Prior Velho, quanto nos custariam os equipamentos. E a verba que se conseguir ... ir directamente para o FUTSAL (Nuno/Fernando/José) são eles o facto de haver FUTSAL no ATLÉTICO.

    SABADO .. Todos os que possam ... porque não, ir-mos à TAPADINHA e ENCHER o nosso PAVILHÃO. além de ir-mos assistir a um bom espectáculo de futebol, de certo iriamos dar uma grande ... alegria e motivação ... à queles jogadores, técnicos e seus responsáveis.
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    Vou-a-Tapadinha
    Rogério Moreira

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