Bruno Baltazar: «Estou neste clube com muito orgulho»

Bruno Baltazar é ainda jovem. Está a dar os primeiros passos como treinador. Após um ano muito positivo no Sintrense, onde subiu o clube ao Campeonato Nacional de Seniores, o Atlético é a etapa que se segue. Filho de um ex-jogador do Atlético, a nossa conversa demonstrou que o clube não lhe é indiferente. Fique a conhecer um pouco mais do actual treinador do Atlético.

Bruno, conta-nos um pouco do teu percurso no futebol.
Curiosamente fui à experiência para o Agualva-Cacém e não fiquei. A minha história começou assim. Fiquei traumatizado, fiquei dois anos sem jogar em iniciados. (risos) Em juvenil ganhei coragem, fui ao Sintrense, prestei provas e fiquei. Fiz a minha formação no Sintrense, juvenil, juniores e os três primeiros anos de sénior.
Depois daí, surgiu uma proposta do mister Daúto Faquirá, levou-me para o Odivelas num projecto para em dois anos subir à II B. Conseguimos. Nesse ano ainda tentámos lutar para subir à Segunda Liga, fizemos bons anos no Odivelas. Estive 4 anos no Odivelas quando surgiu a oportunidade para ir para a Alemanha com o mister José Morais, que agora é adjunto do José Mourinho. Levou-me para a Alemanha, para uma 2ª Divisão B. Uma realidade completamente diferente. Fiz um bom ano, da Alemanha fui para Inglaterra, na perspectiva de ir para um clube melhor, que acabou por não acontecer e acabei por ir para a uma divisão inferior. Não era o que eu queria e voltei para Portugal. Depois em Portugal andei em vários clubes de 2ª B. Ainda fiz um ano no Barreirense na Segunda Liga. Até que fui acabar no Sintrense, já na perspectiva de poder integrar mais tarde uma equipa técnica, para poder começar a minha carreira de Treinador. E foi isso que sucedeu. O ano passado fui o Treinador principal do Sintrense e felizmente consegui subir de divisão. E aqui estamos nós, agora, no Atlético, neste novo projecto.

Qual foi o clube que mais marcou a tua carreira?
Todos marcaram, de uma certa forma. Uns mais do que outros, como é óbvio. Claro que o Sintrense tenho aquele sentimento de casa, onde me formei, onde sou querido, onde me sinto querido. O Odivelas foi um clube importante na minha ascensão, na minha afirmação como jogador. Nunca fui um grande jogador, fui um jogador mediano mas aí foi sem dúvida onde eu me realizei. Gostei muito do Barreirense. Um clube muito especial. Só joguei um ano lá, um clube que estava na Segunda Liga, mas é um clube especial, sem dúvida. Depois todos os outros também me marcaram de certa forma, mas enquanto jogador, este três foram sem dúvida os que mais me marcaram.

O teu pai foi jogador do Atlético, o que é que te transmitiu acerca do clube?
Transmitiu-me a alma alcantarense, sem dúvida nenhuma. A garra, o querer, a vontade, o que significa representar esta camisola. Não só por palavras, mas também quando vinha para os treinos com ele, e assistia aos treinos, ainda me lembro de assistir a alguns jogos, apesar de ser miúdo. Mas lembro-me da envolvência, da exigência da massa adepta do Atlético. Mas sem dúvida... Ele contava-me muitas histórias da Tapadinha cheia de gente nos grandes jogos, com as equipas grandes... E transmitiu-me essa grandeza do Atlético.

Ídolos no Futebol, tens?
Nunca fui de idolatrar um jogador. Nunca segui, nunca tentei seguir um exemplo de um jogador, tentar imitá-lo. gostava de alguns jogadores com quem me identificava mais devido à minha posição. Outros pela sua qualidade. Mas nunca idolatrei nenhum.

Ser treinador é a posição mais ingrata numa equipa?
(Risos) É difícil, é difícil. E há uns anos ouvi um treinador brasileiro que disse uma frase que me marcou: Um treinador é uma ilha. É burrice rodeada de inteligência. Esta frase marcou-me. Mostra que um treinador muitas vezes está só e que é uma tarefa difícil. Mas é para esta profissão que eu me tenho estado a preparar e é esta profissão que eu escolhi e é esta profissão que eu quero seguir.

Preferes modelar a equipa à táctica ou a táctica à equipa?
Tem de se arranjar um meio termo, sempre. Por mais ideias pré-concebidas que eu tenha na minha cabeça ou que um treinador tem, tem que saber com quem é que está a trabalhar. Tem que saber qual é a qualidade humana que tem para trabalhar, e depois adaptar as suas aos jogadores que tem disponíveis. Nunca podemos ter uma ideia pré-concebida e tentar a todo o custo fazê-la prevalecer se não temos meios para o fazer. Portanto há que encontrar um meio termo e achar a fórmula ideal para as coisas resultarem.

Qual é a sensação de orientar ex-companheiros de equipa?
É boa. É boa e é fácil. Ao contrário do que se calhar muita gente pensa. E foram companheiros de balneário onde houve muita brincadeira, houve partilha de vários valores, há a amizade, mas a partir do momento em que se muda de função, esses valores continuam, mas claro que eu tendo um cargo de maior responsabilidade eles percebem perfeitamente essa diferença e respeitam-na. E é muito fácil lidar com estas pessoas. Eles já sabem como é que eu sou como pessoa, sabem com o que é que podem contar, mas também sabem que eu tenho uma responsabilidade grande e que acima de tudo há que prevalecer os interesses do Atlético. E esses vão ser sempre defendidos e eles sabem disso. Não há qualquer conflito de interesses nem qualquer conflito nisso. Portanto é muito fácil, de facto, lidar com ex-colegas.

O trabalho de um treinador é muito extenso, mas pode ser orientado com base em filosofias e ideias. No teu ponto de vista, e em geral, quais as filosofias deve seguir um treinador?
Um treinador que perceba só de futebol não tem qualquer tipo de hipótese. Tem que dominar várias vertentes, tem que ter visão sobre vários aspectos. As vertentes sociais, as vertentes desportivas, até religiosas que podem muitas vezes condicionar um jogador. Portanto há que ter esse conhecimento. Em termos de filosofia eu tenho a minha, mas tenho que me adaptar. Tenho que aplicar a minha forma de pensar e a minha forma de ver as coisas, tenho de tentar fazer ver aos meus jogadores e tentar adaptar também ao que eles pensam e ao que eles acreditam. Apesar de eu ter uma ideia, por vezes essa ideia ou filosofia pode não resultar. Há que ter a sensibilidade de ver se poderá, ou não, resultar.

Muitos treinadores acreditam que deve ser mantida uma certa distância entre Treinador e Jogador, outros acreditam que deve existir um equilíbrio, onde a ideia do jogador é fundamental. Em que é que ficamos?
Essa palavra define tudo: equilíbrio. Tem que haver proximidade, tem que haver sensibilidade. Não nos podemos esquecer que são homens, são pessoas com sentimentos, com problemas, que estão do outro lado. Que têm que ter a noção das suas responsabilidades e das suas obrigações. Mas se nós queremos que onze jogadores vão para dentro do campo e que "dêem a vida" por um clube e por nós, há que ter alguma sensibilidade e há que motivá-los e estimular nesse sentido. Na minha maneira de ver e abordar os jogadores não pode ser com distância, não pode ser com afastamento, não pode ser com ausência total. Tem que haver diálogo, tem que haver uma ligação, tem que haver sentimentos misturados. Agora, sabendo que toda a gente tem o direito a errar, mas quem erra tem uma consequência sempre inerente.

Quais os aspectos que consideras mais importantes para formar a base de uma boa organização?
Existir um organograma bem definido onde as competências sejam distribuídas e delegadas. Onde tudo esteja bem organizado, bem definido, para não haver a menor dúvida. E quando assim é as coisas tornam-se mais fáceis. Para além disso, tem que haver também muito diálogo e que exista uma ideia comum a todos e todos sigam essa ideia.

Qual é a importância que dá ao plano psicológico de uma equipa?
É tão, ou mais, importante como estar bem fisicamente. Porque uma pessoa pode estar bem fisicamente, mas o aspecto psicológico está fraco ou vulnerável, o aspecto físico deixa de ser importante. É fundamental. Em termos psicológicos, individual e colectivamente, é fundamental que as coisas funcionem. Há e tem que haver trabalho da parte do treinador nesse aspecto. Saber motivar, saber estimular, para saber quando um jogador está bem ou quando a equipa não está bem ter que intervir nesse aspecto. E se achar que não tem os recursos certos para o fazer, hoje em dia sou apologista a que se recorra a profissionais na área. E cada vez é mais usual utilizar a psicologia no desporto e pessoas especializadas para intervir perante a equipa.

Fala um pouco sobre a tua equipa técnica.
A minha equipa técnica é constituída por quatro pessoas. Sinónimo de competência, seriedade, trabalho.
Luís Gonçalves, uma pessoa já com muita experiência no futebol, esteve muitos anos na formação do Sporting. Teve também um experiência no estrangeiro, numa academia nos Emiratos Árabes. Sabe muito de futebol, tem uma componente muito importante: sabe lidar com os jogadores. Sabe comunicar com eles. Para além de tudo o que é inerente aos aspectos técnicos e tácticos tem esta vantagem.
Carlos Pereira é um homem da casa que eu fiz questão que ficasse na equipa técnica. Queria continuar com o Carlos, conheço o Carlos, é um homem da casa, competente. Tem o treino específico de Guarda-Redes que é uma carência que eu tenho e tem que ser alguém especialista nessa área. O Carlos é, provavelmente, dos melhores. Portanto fazia todo o sentido continuar com o Carlos.
Amaro Ferreira, analista. Analista de jogos e observador. Hoje em dia quem conhece bem os seus adversários é uma vantagem. Uma arma que se pode utilizar. E o Amaro é uma pessoa que eu também já conhecia, uma pessoa bastante habilitada, com qualidade e competência para fazer esta tarefa.
São estas três pessoas que me complementam. São estas pessoas que fazem de mim um treinador melhor, um treinador mais competente. Vão preencher lacunas e carências que eu, naturalmente, ainda tenho. Estou numa fase de aprendizagem, numa fase de crescimento e eles complementam-me em todos os aspectos.

É a tua primeira experiência como treinador numa liga profissional. A pressão é diferente? Quais são as diferenças entre a III divisão e a segunda Liga?
As diferenças, no aspecto global, não são nenhumas, porque o objectivo passa a ser o mesmo. Que é vencer. Vencer jogo a jogo. Fazer boas exibições. Ter jogadores motivados e com alegria no trabalho. Motivar diariamente jogadores para trabalhar e para treinar. Essas são as semelhanças.
Agora uma liga profissional exige mais. Existem mais treinos, o planeamento é completamente diferente, o nível de organização tem que ser muito maior. Assim como o nível de exigência. Relativamente ao Atlético, tenho consciência da exigência da massa adepta, que é diferente do que experenciei no Sintrense. Mas de um modo geral, os objectivos são os mesmos, que é vencer jogo a jogo e preferencialmente com boas exibições.

Sem o futebol, como seria a tua vida?
Não sei. Tenho o curso de tradutor. Provavelmente estaria nessa área.

Queres deixar alguma mensagem aos adeptos do Atlético?
Estou neste clube com muito orgulho. É um grande orgulho estar aqui. faremos tudo para cumprir os objectivos propostos. E espero que os adeptos nos ajudem a tingir esses objectivos.

 Entrevista conduzida por Hugo Costa.

2 comentários:

  1. parabéns e obrigado pela entrevista.
    só lhe tinha acrescentado uma pergunta importante, que seria a opinião dele em relação ao plantel à disposição.
    de resto, 5 estrelas, quer pelas perguntas, quer pelas respostas.
    venham mais. e quando for possível, com os novos jogadores, para os conhecermos também.

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    1. Foi algo que me passou pela cabeça. Mas como ele já disse publicamente que espera reforços optei por não a fazer.

      Mas gostei muito da conversa que tive com ele. Nota-se que percebe de bola e tem boas ideias. Precisa é de tempo e ovos para a omelete.

      Vê-se também que sente o clube. Algo que é sempre importante.

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