Marco Botelho: «O Atlético é um clube apaixonante»

António Botelho foi um dos grandes guardiões da baliza alcantarense. Anos mais tarde o seu filho Marco viria a ser um dos pilares de uma caminhada histórica rumo à Segunda Liga. Marco Botelho ainda hoje é recordado com saudades pelos adeptos. Um guarda-redes felino e seguro. Foi em Marvila, no Campo Engenheiro Carlos Salema, casa do Oriental, que nos encontrámos e falámos um pouco sobre a sua carreira, e sobre o Atlético.

Marco, conta-nos um pouco do teu percurso no mundo do futebol.
Comecei nos infantis do Amora, Depois fui para o Seixal, voltei ao Amora e entretanto, nos juvenis, fui para o Belenenses onde fiz o resto da formação e fiquei até aos seniores.
Depois fui emprestado ao Oriental, no meu primeiro ano de sénior, no ano seguinte voltei a ser emprestado ao Santa Clara. Regressei ao Belenenses, onde estive quatro anos, depois fui para o V. Setúbal, Portimonense, Louletano, Maia, Lagoa, Atlético - durante 3 anos -, Pinhalnovense e agora regressei aqui ao Oriental.

Lembraste da tua estreia como sénior?
Lembro-me. A minha estreia como sénior foi no Marítimo. Tinha 17 anos. O João Alves decidiu no último jogo do campeonato premiar-me. Eu era o Guarda-Redes dos juniores e fazia apoio aos seniores como terceiro guarda-redes. Lembro-me da estreia como se fosse ontem, estava muito nervoso, era normal. 17 aninhos, no Marítimo, um jogo já de férias, já não contava para nada. Perdemos 3-0 mas foi uma experiência que nunca vou esquecer.

Qual foi o clube que mais te marcou na tua carreira?
Houve dois clubes que me marcaram completamente. O Portimonense primeiro, um clube e uma cidade onde gostam muito de futebol. E sem dúvida, não é por estar a falar contigo, o Atlético. De onde eu pensei que não sairia mais.

Como é que te caracterizas como jogador?
Actualmente há muitas diferenças daquelas que foram caracterizando ao longo da minha carreira. Com a experiência que se vai ganhando, vai-se ganhando vícios também, por vezes não são bons, mas na maioria das vezes ajuda. Actualmente não me consigo estar a identificar... a dar-te um protótipo daquilo que sou. Quem vê tem mais noção, mas quando era mais novo só queria voar (risos). Agora estou mais experiente, mais calmo.

Tens ídolos no futebol?
Sim, claro. O Vítor Baía que foi um grande guarda-redes. Neste momento o Buffon, que penso ser o expoente máximo, embora já com alguma idade.

Tendo sido formado no Belenenses, qual foi a sensação de vestir a camisola do Atlético?
Atenção, eu fui formado no Belenenses mas isso não quer dizer que seja o meu clube. O meu pai é do Atlético e teve uma história bonita na Tapadinha. E como sabes, é impossível um adepto do Atlético ser do Belenenses. E o meu pai passou-me isso. Ele continua a ser do Atlético. Foi especial jogar no Atlético.

O teu pai, António Botelho, foi um dos grandes guarda-redes que passaram pelo Atlético. Sentes que fizeste jus ao seu legado?
Sempre tentei que o meu pai sentisse orgulho de mim. Nunca foi uma obsessão, mas um objectivo. E felizmente penso que sim. O facto de as pessoas terem carinho por mim penso que evidencia isso mesmo.

Foram 3 anos na Tapadinha, 61 jogos para campeonatos. O que recordas desses tempos?
Foi muito bom. Houve grandes momentos, sempre fui bem tratado pelos adeptos. Senti-me acarinhado. E fiz dois grandes anos. O último não foi tão bom, mas é a vida.

O que sentiste em Mafra, no ano da subida, quando subiste à área adversária perto do fim e tiveste influência no golo do empate?
Foi espectacular. uma sensação que não consigo descrever. Às vezes dá vontade de ir lá para a frente e ajudar. Ainda para mais quando estamos cá atrás, a perder, e queremos que a bola entre na outra baliza e não entra. Quis ir lá À frente, nem que fosse para atrapalhar os adversários, e acabei por ter a felicidade de ficar ligado ao golo do empate.

Foi aí que muitos adeptos passaram a acreditar na subida...
Sim. Não só os adeptos, mas nós também começámos a acreditar mais na subida. tínhamos um grande grupo, com grandes jogadores, muito unidos. E se calhar esse jogo foi o clique. E felizmente conseguimos.

Quando foram goleados pelo Padroense a equipa encontrou os adeptos na estação. Estavas à espera daquela reacção por parte dos adeptos?
Sinceramente não estava à espera daquela reacção. Embora por aquilo que conheço dos adeptos, pelo que eram quando lá estive, não esperava um ambiente de muitas críticas. Embora fosse uma derrota muito pesada. Mas esse penso que também foi outro dos pontos em que se viu a união entre os adeptos e os jogadores. E isso, de facto, foi muito importante para nós. Porque vimos que os adeptos continuavam a acreditar e isso redobrou a nossa vontade de dar a alegria aos adeptos. De discutir a subida de divisão. Porque houve muita gente que achou que o Atlético, naquela altura, já estava fora da corrida. 4-1 é um resultado pesado, mas quem esteve em Padrão da Légua viu que nós fizemos tudo para tentar ganhar. Correu tudo mal à gente, correu tudo bem aos outros, mas acho que demos a melhor resposta possível nos dois jogos seguintes e subimos de divisão.

Continuas a acompanhar o Atlético?
Continuo. Não tão por dentro, mas continuo a falar com colegas do clube e a acompanhar pelos jornais. E continuo a ficar satisfeito cada vez que o Clube ganha.

Ou seja, passaste a ser do Atlético...
Sim, posso dizer que passei a ser do Atlético. É normal, eu joguei em tantos clubes e é normal ter uma atenção pelos clubes onde passei, mas sem dúvida, como eu frisei anteriormente, o Atlético e o Portimonense são dois clubes que eu acompanho com mais atenção.

O que achaste da época passada?
Dentro das limitações que o clube atravessa, fizeram uma época muito boa. Garantiram a manutenção relativamente cedo. Com o grupo que tinham e as dificuldades que passaram, foi uma época positiva em termos desportivos.

Tens alguma história engraçada que se tenha passado no Atlético e queiras partilhar?
Histórias há muitas. Mas que eu esteja agora a recordar... Recordo-me de uma que fomos jogar a Reguengos, ganhámos 3-2 nos descontos, e nessa altura ficámos 18 ou 20 jogos sem perder. Chegámos à Tapadinha e o Presidente todo contente chamou-nos que ia dar-nos um prémio de jogo. E tinha uma garrafa de whisky e deu um cálice de whisky a cada um. (risos)

Gostavas de voltar ao Atlético um dia?
Gostava, gostava. Gosto sempre de voltar aos sítios onde sou bem tratado e ao Atlético sem dúvida que gostava de voltar um dia.

Defrontaste o Atlético algumas vezes, o que recordas desses jogos como adversário?
Defrontei bastantes vezes. Por acaso corriam-me quase sempre bem (risos). Se calhar por isso também me foram contratar. Era sempre uma equipa temível e muito respeitada. É um histórico que teve sempre boas equipas e bons jogadores, eram sempre jogos muito complicados.

Se te pedissem para descrever o Atlético, como definirias o clube?
Um clube apaixonante, com adeptos que têm uma paixão louca pelo clube. Quem entra lá, quase de certeza que fica a ser do Atlético.

Estás com 37 anos, tens planos para o futuro?
Neste momento, e com esta idade, já não tenho muitos planos. Tenho que ir vivendo ano a ano. Viver o presente, dar o melhor de mim e conseguir ir o mais longe possível.

O que sente um guarda-redes quando sofre um frango?
A gente tem infelicidades e às vezes más decisões, mas é frustrante depois olhar para a cara dos outros dez e ver que estão a olhar para nós com aquela cara de... (risos) já enterraste isto tudo (risos). E aqueles segundos e minutos a seguir são um bocado complicados mas é a vida de um guarda-redes.

Apesar de nos últimos 10 anos teres sido quase sempre titular por onde passaste, acabaste por não ter  oportunidade de brilhar na primeira liga. Houve alguma razão especial para isso?
Penso que acabei por ser um bocado vítima de estar ligado muitos anos ao Belenenses. Fui sempre emprestado, muitas vezes não me deixavam ser emprestado a clubes da primeira divisão. E isso penso que prejudicou um bocado a minha carreira. Embora por um lado isso dava-me segurança porque tinha contrato, agora em termos desportivos penso que se não tivesse ligado ao clube, penso que teria tido outras oportunidades.

Sem o futebol, como seria a tua vida?
Muito complicada. Nunca fiz mais nada na minha vida sem ser o futebol. Nem consigo imaginar viver sem o futebol.

És ainda recordado com saudade pelos alcantarenses, queres deixar alguma mensagem aos adeptos do Atlético?
Agradecer pelos três anos maravilhosos que passei no Atlético e onde fui sempre tratado de uma forma excepcional. Continuarem a acreditar, embora saiba que as coisas não estão num bom momento, mas os jogadores precisam da vossa ajuda e gostava de ver o clube na primeira divisão. e para isso os adeptos são muito importantes.


Entrevista conduzida por Hugo Costa.

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